quarta-feira, 17 de junho de 2015

O PAÍS DO ARTIFICIALISMO.




Bem que essa poderia ser a nova qualificação do Brasil, afinal elegeu-se como a principal ferramenta política a propaganda oxigenada pela falácia. Foi assim com os preços administrados pelo governo federal, como combustíveis e energia. Tentou-se, artificialmente, controlar a economia, em um arremedo de estabilização, por meio da injeção de dinheiro público para manter baixos esses preços e, agora, depois de não mais ser possível represá-los, pagamos a conta, nos submetendo a aumentos sucessivos e às bandeiras tarifárias que tentam justificar, injustificadamente, o desajuste financeiro (há uma verdade escondida atrás disso). Agora a bola da vez é o FIES, justamente o instrumento mais importante pra efetivação da propalada pátria educadora, a mais nova vedete política, pra amainar os ânimos descontentes com a ineficiência administrativa. Simulou-se, estranhamente, um mau funcionamento do sistema de cadastramento pra dificultar renovações e novas inscrições. Todavia, passados os estertores da mentira, acuado pelo Poder Judiciário, vem a presidência revelar seu plano: não há mais dinheiro. Dizem que os mais de 1 milhão de alunos financiados atualmente conseguirão renovar o contrato... Será? Alguém mais acredita? Sempre fui contra ao desmesurado discurso do impeachment; mas, ao ver que mentira significa desonestidade, e desonestidade fere o Princípio da Moralidade, pilar essencial da Administração, em que pese pouco valorizado, já começo a achar que essa bandeira já não é tão desmedida assim. O artificialismo, curiosamente, não parece ser novidade em nosso cotidiano, tão-pouco é ferramenta única de maus gestores. Nós também, os ditos cidadãos probos, dele lançamos mão diariamente. Mentimos, ostentamos e nos divertimos em sermos personagens de uma ridícula e entediante comédia, cujo fim não é outro, senão o desmascarar do ator, tirando sua maquiagem no recesso do camarim, mostrando o rosto cansado e envelhecido pelos duros dias. Artificialmente, condenamos o sujeito que erra ao nosso lado, nos contentando em esquecer que erramos o mesmo erro. Vejamos, como exemplo, o comportamento social diante da crise da água, em que vivemos. Você conhece alguém que se utiliza desse recurso de modo racional?! Provavelmente, não! Nós nos apressamos em julgar, apontando o dedo, qualquer um que nos seja diferente, nivelando-o por características físicas, escolhas sexuais, origem e qualquer outra coisa que o adjetive como minoria; esquecendo-nos que, em verdade, não é a cor, o sexo ou a regionalidade que define quem somos e, muito menos, prejudica a Sociedade. Tal prejuízo incide, por inerência, na conduta, no comportamento, na falsa moral, na distorcida ética e na vontade de subjugo; vícios esses que foram (e seriam hoje!) capazes de crucificar salvadores, de humilhar heróis, enquanto coroam celebridades parasitárias, falsos profetas e saqueadores nacionais. Logo, antes de condenarmos os administradores que elegemos para conduzirem o País, devemos nos avaliar, de modo imparcial, pra sabermos se seríamos merecedores de nossos próprios votos... Difícil, eu sei... Quase impossível! Mas, não há outro caminho. Cuide de você e de sua conduta, de modo a se tornar um modelo, um paradigma (dentro das condições e limitações humanas). Eis a grande e necessária revolução. Sigamos, com força e fé sempre pelo caminho!

COMO LIBERTAR-SE DE VELHOS HÁBITOS E VIVER EM PAZ.




O Zen-Budismo sem dúvida alguma, é um dos melhores caminhos que levam ao autoconhecimento e, assim, também, ao mundo espiritual. Sua forma, ou, melhore, "não forma", é simples, porém, de apreensão complexa; a que só se pode alcançar, caminhando, com serenidade, perseverança e treinamento. Entretanto, desde já, fica este valioso manual de como se tornar alguém melhor e contributivo, para seu próprio espírito e para os demais, com quem convivemos.
Força e fé sempre pelo caminho!

1. Não adorarei e não me vincularei a nenhuma doutrina, teoria ou ideologia, mesmo o budismo. Considero todo sistema de pensamento um guia ao longo da vida, e não considero nenhum deles como a verdade absoluta.

2. Não acreditarei que a consciência que atualmente possuo seja a verdade absoluta e imutável. Não terei uma mente estreita, ligada às minhas opiniões atuais. Praticarei o não-ligamento às opiniões para permanecer aberto ao ponto de vista dos outros. A verdade se encontra na vida, não nas noções intelectuais. Me manterei sempre disponível a aprender da vida, observando constantemente a realidade em mim mesmo e no mundo.

3. Não constringirei com nenhum meio outras pessoas, inclusive as crianças, a adotar as minhas opiniões, nem com a autoridade, nem com a ameaça, o dinheiro, a propaganda e muito menos com a educação. Em vez disso, através do diálogo compassivo, ajudarei os outros a abandonar o fanatismo e o fechamento mental.

4. Não evitarei o contato com o sofrimento, não fecharei os olhos diante da dor. Não perderei nunca a consciência de que o sofrimento é ainda presente no mundo. Procurarei estar próximo a todos aqueles que sofrem, com todo tipo de meios: contatos pessoais, visitas, imagens, sons. Assim, acordarei a mim mesmo e os outros à realidade do sofrimento no mundo.

5. Não acumularei riqueza enquanto milhões de homens sofrem de fome. Não colocarei como objetivo da minha vida a fama, o lucro, as riquezas ou o prazer dos sensos. Viverei de modo simples, compartilhando tempo, energia e recursos materiais com aqueles que estão necessitados.

6. Não alimentarei raiva e ódio. Se apenas raiva e ódio insurgirem, praticarei a meditação sobre a compaixão com o objetivo de compreender profundamente a pessoa que os causou. Me exercitarei a olhar os outros seres com os olhos da compaixão.

7. Não me dispersarei nas distrações e nos múltiplos estímulos externos. Praticarei a meditação para recompor corpo e mente, para desenvolver a consciência, a concentração e a compreensão.

8. Não pronunciarei palavras que possam criar discórdia e causar fraturas na comunidade. Farei todo o possível para reconciliar e resolver os conflitos, inclusive o menor deles.

9. Não direi palavras mentirosas por interesse pessoal ou para impressionar os outros. Não pronunciarei palavras que causem divisão e ódio. Não difundirei notícias das quais eu mesmo não tenho certeza. Não criticarei e não condenarei aquilo de que não sou seguro. Falarei sempre de modo verdadeiro e construtivo. Terei coragem de me pronunciar abertamente em todos os casos de injustiça, também quando isso possa ameaçar a minha segurança pessoal.

10. Não usarei a comunidade para vantagem ou proveito pessoal, e não procurarei transformá-la num partido político. Enquanto membro de uma comunidade religiosa, assumirei, no entanto, uma firme posição contra a opressão e a injustiça, e me esforçarei para mudar a situação sem cair em conflitos partidários.

11. Não exercitarei uma profissão prejudicial aos homens ou à natureza. Não investirei dinheiro em atividades econômicas que privem outras pessoas de recursos vitais. Escolherei um trabalho em harmonia com a realização do meu ideal de compaixão.

12. Não matarei e não permitirei que outros matem. Me servirei de todos meios para proteger a vida e prevenir a guerra.

13. Não me apropriarei daquilo que por direito pertence a outros. Respeitarei a propriedade alheia, mas lutarei para que ninguém se enriqueça provocando sofrimento aos homens e aos seres viventes.

14. Não maltratarei o meu corpo e o tratarei com respeito, sem considerá-lo um simples instrumento. Conservarei as energias vitais (do sexo, da respiração e do espírito) para a realização do Caminho. Me absterei da sexualidade que não comporte amor e empenho recíproco. Considerarei os relacionamentos sexuais consciente do sofrimento que podem provocar. Serei plenamente consciente da responsabilidade de pôr no mundo novas vidas, e meditarei a respeito do mundo no qual pretendo fazer nascer novos seres.

(Thich Nhat Hanh – Monge budista do Vietnam, pacifista e escritor).

segunda-feira, 15 de junho de 2015

BUSCA




Tenho andado distraído, impaciente e indeciso... De repente, citando essa mágica canção da Legião Urbana, me percebo em um labirinto de emoções. A busca pela ansiada resposta (ou seriam respostas?), tem me tirado do prumo, me deixado confuso e, em verdadeiro contrassenso, tem me conduzido em direção oposta ao local a que viso chegar. Minhas teorias, minhas palavras, meus entendimentos sobre todas as coisas, tudo aquilo que tento passar a quem me pede ajuda, são esquecidos quando me pego preso neste turbilhão causado pela ausência daquilo que tanto quero... E não quero muito; apenas ser inteiro, ao mesmo tempo em que construo outra integridade, também esperada, não por mim, desta vez, mas por quem, assim como eu, deseja a completude. Abstrato dizer tudo isso... Mas não há outro caminho, posto abstrato igualmente ser o que carrego. Preciso escrever, pois, ainda que o texto seja arquitetado com vagueza, porque tornar as coisas reais significa expulsá-las de você, pra que elas possam ser de alguém! Eu me rendo, então, às letras, frases e ideias... Ainda que soltas e reticentes! Entendo que o caminho é longo e que, mantendo a fé, logo o fim (ao menos deste trecho), chegará. Entretanto, é inevitável não se desanimar, ainda mais quando por tanto tempo já caminho nesta mesma senda, nesta interminável jornada. Tudo bem, compreendo: quanto mais duros os percalços e obstáculos, maior a recompensa! Mas já estou estafado, expelindo os estertores da corrida, com câimbras e um cansaço descomunal. Só me resta mesmo a fé; já não tão inabalável, mas, ainda, resistente... Ou resiliente. Até quando, com resposta sincera, não sei. O que me resta, é apenas persistir. O discurso é o mesmo e já se repete por vezes, porquanto não há outra alternativa mesmo a escolher e a reiteração até mesmo fortalece os nervos, como se fosse um mantra mágico. A resiliência também me vem a partir da certeza (ao menos moral), que, nesta viagem não me encontro sozinho. Há outros como eu e com objetivos simpáticos. Consigo perceber nos olhares dos passantes a mesma busca, o mesmo interesse... Mas, mesmo assim, não consigo os alcançar e a resposta, ou explicação, a esse fracasso, certamente me vem de traumas inexplicáveis que carrego comigo e compõe, até seu definitivo ocaso, aquilo que sou neste momento. Mas persisto, e o faço já não mais caminhando, mas correndo, porque, se o final existe, que me venha breve e definitivo.

sábado, 6 de junho de 2015

A VIDA E O DIREITO: BREVE MANUAL DE INSTRUÇÕES.




Conta a lenda que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luis Roberto Barroso, um dos mais notáveis constitucionalistas da atualidade no País, quando convidado a figurar como patrono de uma das turmas para a qual lecionou, em seu discurso deu a seguinte lição de vida, a que chamou de pequeno manual de instruções. O texto é grande, mas vale cada palavra, porque é, verdadeiramente, inspirador!

“I. INTRODUÇÃO: Eu poderia gastar um longo tempo descrevendo todos os sentimentos bons que vieram ao meu espírito ao ser escolhido patrono de uma turma extraordinária como a de vocês. Mas nós somos – vocês e eu – militantes da revolução da brevidade. Acreditamos na utopia de que em algum lugar do futuro juristas falarão menos, escreverão menos e não serão tão apaixonados pela própria voz. Por isso, em lugar de muitas palavras, basta que vejam o brilho dos meus olhos e sintam a emoção genuína da minha voz. E ninguém terá dúvida da felicidade imensa que me proporcionaram. Celebramos esta noite, nessa despedida provisória, o pacto que unirá nossas vidas para sempre, selado pelos valores que compartilhamos. É lugar comum dizer-se que a vida vem sem manual de instruções. Porém, não resisti à tentação – mais que isso, à ilimitada pretensão – de sanar essa omissão. Relevem a insensatez. Ela é fruto do meu afeto. Por certo, ninguém vive a vida dos outros. Cada um descobre, ao longo do caminho, as suas próprias verdades. Vai aqui, ainda assim, no curto espaço de tempo que me impus, um guia breve com ideias essenciais ligadas à vida e ao Direito. II. A REGRA Nº 1: No nosso primeiro dia de aula eu lhes narrei o multicitado 'caso do arremesso de anão'. Como se lembrarão, em uma localidade próxima a Paris, uma casa noturna realizava um evento, um torneio no qual os participantes procuravam atirar um anão, um deficiente físico de baixa altura, à maior distância possível. O vencedor levava o grande prêmio da noite. Compreensivelmente horrorizado com a prática, o Prefeito Municipal interditou a atividade. Após recursos, idas e vindas, o Conselho de Estado francês confirmou a proibição. Na ocasião, dizia-lhes eu, o Conselho afirmou que se aquele pobre homem abria mão de sua dignidade humana, deixando-se arremessar como se fora um objeto e não um sujeito de  direitos, cabia ao Estado intervir para restabelecer a sua dignidade perdida. Em meio ao assentimento geral, eu observava que a história não havia terminado ainda. E em seguida, contava que o anão recorrera em todas as instâncias possíveis, chegando até mesmo à Comissão de Direitos Humanos da ONU, procurando reverter a proibição. Sustentava ele que não se sentia – o trocadilho é inevitável – diminuído com aquela prática. Pelo contrário. Pela primeira vez em toda a sua vida ele se sentia realizado. Tinha um emprego, amigos, ganhava salário e gorjetas, e nunca fora tão feliz. A decisão do Conselho o obrigava a voltar para o mundo onde vivia esquecido e invisível. Após eu narrar a segunda parte da história, todos nos sentíamos divididos em relação a qual seria a solução correta. E ali, naquele primeiro encontro, nós estabelecemos que para quem escolhia viver no mundo do Direito esta era a regra nº 1: nunca forme uma opinião sem antes ouvir os dois lados. III. A REGRA Nº 2: Nós vivemos em um mundo complexo e plural. Como bem ilustra o nosso exemplo anterior, cada um é feliz à sua maneira. A vida pode ser vista de múltiplos pontos de observação. Narro-lhes uma história que li recentemente e que considero uma boa alegoria. Dois amigos estão sentados em um bar no Alaska, tomando uma cerveja. Começam, como previsível, conversando sobre mulheres. Depois falam de esportes diversos. E na medida em que a cerveja acumulava, passam a falar sobre religião. Um deles é ateu. O outro é um homem religioso. Passam a discutir sobre a existência de Deus. O ateu fala: 'Não é que eu nunca tenha tentado acreditar, não. Eu tentei. Ainda recentemente. Eu havia me perdido em uma tempestade de neve em um lugar ermo, comecei a congelar, percebi que ia morrer ali. Aí, me ajoelhei no chão e disse, bem alto: Deus, se você existe, me tire dessa situação, salve a minha vida'. Diante de tal depoimento, o religioso disse: 'Bom, mas você foi salvo, você está aqui, deveria ter passado a acreditar'. E o ateu responde: 'Nada disso! Deus não deu nem sinal. A sorte que eu tive é que vinha passando um casal de esquimós. Eles me resgataram, me aqueceram e me mostraram o caminho de volta. É a eles que eu devo a minha vida'. Note-se que não há aqui qualquer dúvida quanto aos fatos, apenas sobre como interpretá-los. Quem está certo? Onde está a verdade? Na frase feliz da escritora Anais Nin, 'nós não vemos as coisas como elas são, nós as vemos como nós somos'. Para viver uma vida boa, uma vida completa, cada um deve procurar o bem, o correto e o justo. Mas sem presunção ou arrogância. Sem desconsiderar o outro. Aqui a nossa regra nº 2: a verdade não tem dono. IV. A REGRA Nº 3: Uma vez, um sultão poderoso sonhou que havia perdido todos os dentes. Intrigado, mandou chamar um sábio que o ajudasse a interpretar o sonho. O sábio fez um ar sombrio e exclamou: 'Uma desgraça, Majestade. Os dentes perdidos significam que Vossa Alteza irá assistir a morte de todos os seus parentes'. Extremamente contrariado, o Sultão mandou aplicar cem chibatadas no sábio agourento. Em seguida, mandou chamar outro sábio. Este, ao ouvir o sonho, falou com voz excitada: 'Vejo uma grande felicidade, Majestade. Vossa Alteza irá viver mais do que todos os seus parentes'. Exultante com a revelação, o Sultão mandou pagar ao sábio cem moedas de ouro. Um cortesão que assistira a ambas as cenas vira-se para o segundo sábio e lhe diz: 'Não consigo entender. Sua resposta foi exatamente igual à do primeiro sábio. O outro foi castigado e você foi premiado'. Ao que o segundo sábio respondeu: 'a diferença não está no que eu falei, mas em como falei.' Pois assim é. Na vida, não basta ter razão: é preciso saber levar. É possível embrulhar os nossos pontos de vista em papel áspero e com espinhos, revelando indiferença aos sentimentos alheios. Mas, sem qualquer sacrifício do seu conteúdo, é possível, também, embalá-los em papel suave, que revele consideração pelo outro. Esta a nossa regra nº 3: o modo como se fala faz toda a diferença. V. A REGRA Nº 4: Nós vivemos tempos difíceis. É impossível esconder a sensação de que há espaços na vida brasileira em que o mal venceu. Domínios em que não parecem fazer sentido noções como patriotismo, idealismo ou respeito ao próximo. Mas a história da humanidade demonstra o contrário. O processo civilizatório segue o seu curso como um rio subterrâneo, impulsionado pela energia positiva que vem desde o início dos tempos. Uma história que nos trouxe de um mundo primitivo de aspereza e brutalidade à era dos direitos humanos. É o bem que vence no final. Se não acabou bem, é porque não chegou ao fim. O fato de acontecerem tantas coisas tristes e erradas não nos dispensa de procurarmos agir com integridade e correção. Estes não são valores instrumentais, mas fins em si mesmos. São requisitos para uma vida boa. Portanto, independentemente do que estiver acontecendo à sua volta, faça o melhor papel que puder. A virtude não precisa de plateia, de aplauso ou de reconhecimento. A virtude é a sua própria recompensa. Eis a nossa regra nº 4: seja bom e correto mesmo quando ninguém estiver olhando. VI. A REGRA Nº 5: Em uma de suas fábulas, Esopo conta a história de um galo que após intensa disputa derrotou o oponente, tornando-se o rei do galinheiro. O galo vencido, dignamente, preparou-se para deixar o terreiro. O vencedor, vaidoso, subiu ao ponto mais alto do telhado e pôs-se a cantar aos ventos a sua vitória. Chamou a atenção de uma águia, que arrebatou-o em voo rasante, pondo fim ao seu triunfo e à sua vida. E, assim, o galo aparentemente vencido reinou discretamente, por muito tempo. A moral dessa história, como próprio das fábulas, é bem simples: devemos ser altivos na derrota e humildes na vitória. Humildade não significa pedir licença para viver a própria vida, mas tão-somente abster-se de se exibir e de ostentar. Ao lado da humildade, há outra virtude que eleva o espírito e traz felicidade: é a gratidão. Mas atenção, a gratidão é presa fácil do tempo: tem memória curta (Benjamin Constant) e envelhece depressa (Aristóteles). Portanto, nessa matéria, sejam rápidos no gatilho. Agradecer, de coração, enriquece quem oferece e quem recebe. Em quase todos os meus discursos de formatura, desde que a vida começou a me oferecer este presente, eu incluo a passagem que se segue, e que é pertinente aqui. "As coisas não caem do céu. É preciso ir buscá-las. Correr atrás, mergulhar fundo, voar alto. Muitas vezes, será necessário voltar ao ponto de partida e começar tudo de novo. As coisas, eu repito, não caem do céu. Mas quando, após haverem empenhado cérebro, nervos e coração, chegarem à vitória final, saboreiem o sucesso gota a gota. Sem medo, sem culpa e em paz. É uma delícia. Sem esquecer, no entanto, que ninguém é bom demais. Que ninguém é bom sozinho. E que, no fundo no fundo, por paradoxal que pareça, as coisas caem mesmo é do céu, e é preciso agradecer". Esta a nossa regra nº 5: ninguém é bom demais, ninguém é bom sozinho e é preciso agradecer. VII. Conclusão: Eis então as cláusulas do nosso pacto, nosso pequeno manual de instruções: 1. Nunca forme uma opinião sem ouvir os dois lados; 2. A verdade não tem dono; 3. O modo como se fala faz toda a diferença; 4. Seja bom e correto mesmo quando ninguém estiver olhando; 5. Ninguém é bom demais, ninguém é bom sozinho e é preciso agradecer. Aqui nos despedimos. Quando meu filho caçula tinha 15 anos e foi passar um semestre em um colégio interno fora, como parte do seu aprendizado de vida, eu dei a ele alguns conselhos. Pai gosta de dar conselho. E como vocês são meus filhos espirituais, peço licença aos pais de vocês para repassá-los textualmente, a cada um, com toda a energia positiva do meu afeto: (i) Fique vivo; (ii) Fique inteiro; (iii) Seja bom-caráter; (iv) Seja educado; e (v) Aproveite a vida, com alegria e leveza. Vão em paz. Sejam abençoados. Façam o mundo melhor. E lembrem-se da advertência inspirada de Disraeli: "A vida é muito curta para ser pequena’”.

(Luis Roberto Barroso).